Coluna do Evaldo Gonçalves: Ingratidão: crime inafiançável?
É conhecida a resposta de José Américo de Almeida a um jornalista que, no seu aniversário dos 90 anos, lhe perguntara: qual o segredo de sua longevidade? Teria respondido: nunca esperei gratidão.
Tal fórmula inteligente de escapar das decepções tem sido repetida como terapia poderosa, sobretudo no mundo político, onde há muita ação em favor dos outros e, as mais das vezes, o reconhecimento não vem quando do exercício do voto.
Tramita no Congresso Nacional projeto de Lei que considera a ingratidão crime inafiançável o que certamente, se aprovado, vai perturbar muita gente, no Brasil, ante a criminalização de tão indesejável prática, que se encontra muito presente na cultura política brasileira.
Perguntamos: será que no nosso Código Penal o rol das definições de crimes já não exaure a capacidade disponível para processar e condenar incontáveis criminosos? É possível imaginar quantas pessoas estariam sujeitas a tão inovadora imputação, e quais as condições disponíveis existentes para apura-la e puni-la?
A conclusão que se impõe é que já temos em nosso ordenamento jurídico um número incontável de crimes, e com a adoção de medidas judiciais para apuração e punição de mais um o da Ingratidão, nossos tribunais e juízos ficariam mais sufocados diante das novas demandas.
Ademais, os indícios para apurarão de tal crime, o da Ingratidão, ensejaria a busca das mais inusitadas provas, a partir da testemunhal, considerada a mais precária delas, terminando num verdadeiro Esforço de Sísifo, sem final satisfatório.
Conclusão: a solução adotada pelo grande paraibano José Américo, que se doou como Político, Intelectual, Governador do Estado e Senador, praticando o Bem, inclusive, sem esperar nenhuma gratidão, se reveste do superior sentido de que nossa missão, aqui, é ajudar aos outros, particular ou publicamente, e se considerar realizado em agradecimento ao Dom da Vida, prêmio maior de que dispomos, gratuitamente.
Evaldo Gonçalves é da APL e do IHGP
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