Som paraibano chega a Semana Internacional de Música de SP
Além de shows e palestras com artistas de João Pessoa, projeto #30dias30beats concorre a prêmio ‘Projeto do Ano’ na SIM São Paulo.
Produtores culturais e artistas paraibanos independentes estão representando a Paraíba na Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM), que começou na quarta-feira (4) e segue até o domingo (8). Além de shows e palestras na programação oficial do evento, o projeto paraibano #30dias30beats, idealizado pelo beatmaker Daniel Jesi, concorre ao Prêmio SIM de Projeto do Ano.
A reportagem conversou com os produtores Rayan Lins e Daniel Jesi, que já participam da SIM São Paulo há três anos, sobre a cena independente paraibana e sobre os projetos de música realizados no estado. Rayan foi um dos palestrantes do evento em 2018 e este ano está com uma noite temática de shows de artistas paraibanos. Já Daniel, além de idealizar o projeto que concorre ao Prêmio SIM, também palestra na edição 2019.
“É uma ação de guerrilha, praticamente, porque é uma iniciativa completamente independente dos músicos, dos artistas, em sair da Paraíba e ir passar uma semana em São Paulo, com custos do próprio bolso. É quase um trabalho de política pública, porque a gente vai levar o nome da Paraíba, vamos levando boa parte da produção contemporânea local não só para produtores nacionais, mas também para gente do mundo inteiro conhecer. A SIM São Paulo é um evento muito grande, que gera muitas oportunidades de conexões”, diz Rayan.
O produtor, que também é baterista e dono de uma casa de shows no Centro Histórico de João Pessoa, tem uma agência, produtora e selo, que trabalha com artistas independentes da Paraíba e realiza festivais como o Festival Grito, que completou 12 anos em 2019. Na SIM São Paulo, a agência realiza um evento na programação noturna, que reúne as paraibanas Sinta a Liga Crew, FurmigaDub e HxxX, em um show na sexta-feira (6). Além desta noite, também há shows com os artistas paraibanos Glue Trip e DJ 10zanu, em dois lugares diferentes da capital paulista.
As bandas Glue Trip e Sinta a Liga Crew também fazem parte dos showcases diurnos, apresentações de 20 minutos, que acontecem no mesmo local do evento principal da SIM São Paulo. As bandas estão entre os 30 artistas selecionados pelo evento para se apresentar nesta modalidade e se apresentam no sábado (7).
“É uma oportunidade muito grande que essas bandas conseguem, porque como é no espaço principal do evento, tem uma galera muito grande, de todo o mundo, que passa por lá e pode conferir o trabalho das bandas. É um espaço muito privilegiado que a música paraibana consegue agora”, comenta Rayan Lins.
#30dias30beats
Um beat de um minuto por dia. Este foi o desafio proposto no Instagram por dois amigos de João Pessoa. O projeto começou como um grupo pequeno no WhatsApp e se espalhou para beatmakers e músicos do Brasil inteiro no mês de abril. O prêmio no qual o #30dias30beats concorre visa reconhecer o trabalho dos profissionais que ajudam a construir a história da indústria musical no Brasil e no mundo.
“A ideia por trás do projeto começou no ano passado. Sozinho, eu fiz 43 beats em 43 dias seguidos. Comprei um equipamento de sampler e queria aprender a usá-lo assim como aprendi a tocar baixo. Esse ano eu troquei de equipamento e tentei convencer uns amigos a repetir a experiência esse ano. Foi aí que falei com Felipe Spencer, beatmaker paraibano que mora em São Paulo, ele gostou da ideia e fomos espalhando entre os amigos”, explica Daniel Jesi, que é produtor cultural e músico das bandas Rieg, Burro Morto, Vieira, D_M_G e Orijàh.
O grupo inicial de pessoas que entraram no desafio de postar os beats começou com cerca de 15 artistas, mas na primeira semana, subiu para mais de 70, incluindo beatmakers como DJ Duh, que trabalha com o rapper Emicida, e o paraibano Esmeraldo (das bandas Chico Correa & Electronic Band e Berra Boi).
“A galera simplesmente foi entrando na onda. O pessoal via a hashtag nas redes sociais, entrava no desafio e fazia os beats como dava. A ideia sempre foi essa, da coisa orgânica e espontânea. Bastava postar o vídeo e o beat. Eu fazia os meus na MPC [equipamento eletrônico para criar samplers], mas tinha gente que fazia com instrumento de verdade, um pessoal que fazia direto no celular, por aplicativos de música, gente que editava diretamente o vídeo e exportava com áudio mixado, enfim, foi bem criativo”, comenta Jesi.
Para Daniel, o sucesso do projeto se deve ao fato de ter sido descentralizado. “Não era um projeto meu. Começou comigo, mas se expandiu e funcionou porque o pessoal se engajou na hashtag. Pra mim, só em ser indicado a um prêmio e concorrer com projetos como o seriado ‘Sintonia’, do Kondzilla, já é uma vitória”, completa.
O músico, que também tem um estúdio de produções audiovisuais em João Pessoa, também vai participar da SIM São Paulo como palestrante. Na sexta-feira ele participa de um debate chamado “Iniciativas Gatilho que Agitam uma Cena”, com participantes de movimentos e organizações que vão compartilhar quais os caminhos traçados e quais ferramentas usadas que possibilitaram a conexão de articuladores, produtores, profissionais e músicos. A ideia é debater cases de iniciativas gatilhos, como o #30dias30beats, que começaram em um grupo pequeno e criaram um movimento cultural, transformaram a cena ou a identidade de uma cidade.
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