Compositores usam isolamento como inspiração na Paraíba
O isolamento social como prevenção à propagação do novo coronavírus (Covid-19) tem alterado a rotina dos artistas na Paraíba. Com bares e casas de shows fechados por decretos estadual e municipais, muitos compositores estão usando o tempo em casa como fonte de inspiração para criar novas composições e trabalhos colaborativos. Sem poder se apresentar em palcos para evitar aglomerações, esses músicos têm usado a internet para divulgar os trabalhos.
Titá Moura é cantor e compositor, tanto em carreira solo como integrante da banda pessoense Caburé. Na primeira semana de isolamento, ele lançou em seu perfil do Instagram a música “Toque de Recolher”.
“Esta é uma canção que nasce fruto deste contexto de pandemia, com uma reflexão desse momento. É uma canção que já traz no título uma certa dualidade. Ela sugere, em uma primeira camada, o recolhimento. A convocação para o recolhimento como prevenção. Além disso, o título traz também essa dor por essa necessidade do toque, do contato, que estamos proibidos de ter por enquanto”, diz o músico.
Titá conta que, como artista, é preciso se reinventar e ser criativo e produtivo durante este momento de auto-quarentena. Ele trabalha em seu segundo disco-solo, “Vai Dormir que seu Mal é Sonho”, ainda sem data de lançamento prevista, e conta que está trabalhando à distância na produção.
“O formato digital de fazer música permite isso e vou fazendo na medida que posso. Além disso, também estou praticando lives e estudando formas de rentabilizar um pouco nesse momento de escassez. Seja com a venda de mídia física do primeiro disco ou também com produção de jingles”, diz.
Trabalho colaborativo
Diferente de Titá Moura, a banda-fôrra resolveu utilizar a internet para lançar um mini-clipe de uma música inédita – composta antes da pandemia. “Malabarismo”, que vai fazer parte do terceiro disco da banda, ganhou uma versão reduzida e um vídeo colaborativo feito à distância pelos integrantes do grupo.
Assista ao episódio da banda-fôrra no Som Nascente
“Foi um desafio, algo completamente diferente do que a gente já fez, mas a gente já tinha mais ou menos uma ideia de como produzir. Cada músico fez sua parte em casa, ninguém se encontrou. A gente marcou o andamento da música, cada integrante gravou sua parte em áudio e vídeo e depois nosso baterista, Lucas Benjamim, juntou tudo e fez o vídeo”, conta Guga Limeira, vocalista da banda-fôrra.
Apesar de inédita em estúdio, “Malabarismo” já vem sendo tocada pelo grupo em shows. “A gente tinha uma série de apresentações agora para abril que foram canceladas. Estávamos com muita vontade de mostrar essa versão dessa música em particular, então apareceu essa oportunidade. A gente tinha que fazer e tinha essa urgência, por isso lançamos assim”, diz Guga.
Segundo o vocalista, que é co-autor da letra junto ao guitarrista Hugo Limeira, a canção é existencial e se propõe a falar sobre o que é amar, o que é viver. “A gente tenta dar uma resposta para estas perguntas, mas no fim das contas, os últimos versos da letra parecem conversar com esse contexto de isolamento que estamos vivendo. Ela fala que ‘a solidão não precisa ser prisão nem para mim nem para você’”.
Para Guga, o tom positivo da música traz esperança de dias melhores. “A verdade é que a saudade aperta, falando por mim, saudade dos colegas de trabalho, dos meus amigos, dos parceiros de música. A gente se fala todo dia, trocamos mensagens, mas a gente sabe que o contato físico, o abraço, o cheiro, a presença tem o seu lugar. Nesse período de isolamento a gente tem mesmo que usar a internet para encurtar as distâncias e explorar as ferramentas que a gente tem para não deixar que todo esse sentimento se esvaia”, completa.
Improviso e criatividade
De uma forma semelhante ao que foi feito por Titá Moura e pela banda-fôrra, o grupo Os Fulano resolveu juntar a criatividade com o improviso para lançar um forró durante a quarentena. A música surgiu a partir de uma base de zabumba e sanfona feitas pelos irmãos Thiago Melo e Lucas Dan, integrantes da banda.
“Eles estão juntos na mesma casa durante esse isolamento, fizeram essa música e postaram nas redes sociais. Yuri Gonzaga, que é sanfoneiro e vocalista da banda Os Gonzagas gravou mais alguns instrumentos e postou novamente o vídeo. Eu entrei na brincadeira, gravei outras coisas e depois Betinho Lucena, nosso triangulista, completou a música”, conta Jader Finamore, produtor musical e cavaquinista d’Os Fulano.
Segundo Jader, a descontração de fazer uma parceria à distância e no improviso é uma forma de driblar os desafios do isolamento. “É tudo uma brincadeira e nada foi combinado. Cada um pegou um do outro, usando aplicativos de celulares mesmo e deu certo”, completa.
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