Padre critica comunidade LGBTQIA+ em missa na cidade de Livramento; entidade rebate
O vídeo de uma homilia em uma missa na cidade de Livramento (PB), a cerca de 290 km de João Pessoa, ganhou grande proporção devido ao discurso com críticas à comunidade LGBTQIA+. O caso ocorreu durante transmissão ao vivo da missa dominical no dia 24 de janeiro. O padre Antônio Evandro de Oliveira, da paróquia Nossa Senhora do
Livramento, disse que viu uma postagem no Facebook sobre não constar na certidão de nascimento o “sexo” e as crianças decidirem quando crescerem.
“Isso é uma aberração. Como é que pode uma coisa dessas? Estão cegos? Não estão vendo se é homem ou se é mulher a criança?”, questionou. “Quem aprova essas aberrações são os parlamentos”, completou. “Se a pessoa se sente mulher, que o seja, se sente. Mas não, ela não é mulher. Não tem isso, não. Não é mulher coisa nenhuma”, continuou ao falar.
O padre ainda comentou sobre a nova edição do programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, e teceu críticas.
“Vão ter cinco pessoas LGBTs, boa, que negócio é esse? Que aberração a Globo está fazendo e quer fazer cada vez mais? Quer empurrar goela adentro o LGBT” enfatizou.
O religioso também disse que “respeitar é uma coisa, mas ser obrigado a aceitar do jeito que nos passam as coisas é outra coisa diferente”. “Isso não é LGBTfobia, isso é realmente ética”, ressaltou.
A reportagem não conseguiu contato por telefone com o padre ou com a paróquia de Nossa Senhora do Livramento. As redes sociais de ambos agora estão privadas, mas o vídeo permanece na página da paróquia no Facebook. Também não foi possível contato com a Diocese de Patos (PB), com que cobre a região, pois as ligações não foram atendidas.
O caso ganhou repercussão nacional. Entidades e internautas se manifestaram.
Em nota oficial, a Aliança Nacional LGBTI+ rebate os posicionamentos do padre e salienta que “a liberdade religiosa não pode em instante algum se sobrepor à dignidade da pessoa humana, à cidadania e às leis da República”. O texto é assinado em concordância com outras duas entidades, o MEL (Movimento do Espírito Lilás) e a ASTTTRANS (Associação das Mulheres Travestis, Transexuais e Transfeministas da Paraíba).
“Graças à influência dos preceitos judaico-cristãos que carregam consigo ideais machistas, misóginos e sexistas, grande parte das sociedades atuais integraram em sua construção cultural e social tais fatores, responsáveis pelas
manifestações de todas as variadas formas de preconceito, nas quais se incluem as LGBTIfóbicas. A relativização do que se entende como moralmente aceito na atualidade segue sendo marca de grande parcela dos segmentos religiosos, segmentos estes que optam por abraçar uma interpretação humana dos textos bíblicos, manipulando-os para que se enquadrem em seus pensamentos e ações repulsivas”, diz o comunicado da entidade, que manifestou “tristeza” com o conteúdo do vídeo.
“Nadando na contramão de todas as variações de estudos que permeiam o campo de gênero, o padre em questão nega à população de mulheres trans e travestis a identidade feminina, além de reproduzir ideais conservadores repletos de falácias, que tentam imbuir ‘culpa’ ao poder legislativo pelas conquistas de direitos da população LGBTI+”, acrescenta o texto, indo além.
“Neste ponto, padre Antônio Evandro demonstra total desconhecimento do que realmente ocorre em nossa nação, onde graças ao conservadorismo presente, todas as conquistas de direitos se deram graças à atuação da mais alta corte de justiça do país, o Supremo Tribunal Federal (STF).”
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