Empresa que vendeu blindados à PRF com aval de Silvinei movimentou R$ 28 mi em dois anos

  • 10 de agosto de 2023

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência financeira do Banco Central, mostra movimentações financeiras atípicas por parte da empresa Combat Armor Defense do Brasil, responsável pela venda de veículos blindados à Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante a gestão do ex-diretor-geral Silvinei Vasques. O documento apresenta créditos na casa de R$ 28 milhões em dois anos, quando o capital da empresa era de R$ 1 milhão.

“A movimentação financeira da empresa é incompatível com o faturamento”, diz o relatório. O período avaliado é de abril de 2021 ao início deste ano. O Coaf vê inconsistência na forma como o dinheiro entrava e saía das contas da empresa. Assim que os valores entravam, em um curto período de tempo já eram retirados e transferidos para outras contas vinculadas à empresa. Também eram realizados saques em espécie. A suspeita é de que essa era uma estratégia para evitar a comunicação das movimentações às autoridades.

O Coaf também afirma que a Combat Armor prestou informações “de difícil ou onerosa verificação” e que não encontrou nas instalações da empresa nenhum veículo ou maquinário para realizar a atividade de blindagem.

O relatório está em posse da CPMI do 8 de Janeiro, que investiga a relação da empresa com Silvinei Vasques e outros gestores do governo Bolsonaro, como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Questionamentos na CPMI

Por meio de análises bancárias feitas em relação à Combat Armor, a CPMI detectou um pagamento de R$ 36 mil, em 2023, à empresa Lopes & Filho, criada no início deste ano no mesmo endereço vinculado a outras duas empresas, ligadas a Silvinei e ao brigadeiro Antonio Lorenzo, ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça.

Durante a oitiva à CPMI, Vasques afirmou que a Combat cumpriu todos os requisitos para ser contratada e que a licitação foi “transparente”. No escopo de todas as licitações fechadas com órgãos públicos na gestão passada, com valores que ultrapassam R$ 100 milhões, a empresa de blindados foi punida administrativamente de licitar por deixar de realizar entregas a tribunais no Brasil.

Vasques negou relação pessoal com a empresa, mas admitiu ter pedido emprego após se aposentar da PRF. “Eu estou, desde o dia em que me aposentei, procurando emprego. Estive nessa empresa, estive em mais de dez empresas”, declarou.

A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), também questionou o ex-ministro da Justiça Anderson Torres sobre os contratos. Em depoimento, Torres disse que desconhece a empresa e os donos e que a Polícia Rodoviária Federal tinha autonomia nas compras e nas necessidades da instituição. “Eu não me envolvia com isso”, declarou.

Na avaliação de Eliziane, no entanto, Torres, como então ministro da Justiça, tem responsabilidade sobre as polícias federais. “Torres tentou se esquivar da responsabilidade. Agora há um compartilhamento. Ao definir indicações, você tem uma responsabilidade compartilhada”, alegou.

Na mira do MPF

O Ministério Público Federal também investiga a venda dos veículos da Combat Armor para a PRF. Durante a gestão Bolsonaro, a empresa recebeu dos cofres públicos federais um valor da ordem de R$ 36 milhões pelos contratos firmados com a corporação. Pelo que consta nos processos de licitação, foram negociadas 69 unidades, 19 “caveirões” e 51 dos chamados “caveirinhas”. Até 2018, a PRF não tinha blindados na frota.

Na função de superintendente regional na PRF do Rio, Silvinei Vasques aparece como o responsável pela aprovação de contratos no estado. O MPF quer saber qual a relação de Vasques com a empresa e se houve fraude no processo de licitação.

A Combat Armor é uma empresa americana que se instalou no Brasil em 2019, com faturamento, à época, de R$ 58,5 mil, mas viu os números crescerem com os contratos milionários fechados no governo anterior. Em outubro de 2022, o patrimônio já estava na casa dos R$ 27,4 milhões.

No Brasil, ela é representada pelo CEO Maurício Junot de Maria, que já atuava no setor de blindagem. Mas pertence a Daniel Beck, apoiador de Donald Trump e que esteve em Washington durante a invasão do Congresso americano, em janeiro de 2021.

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