Cid cita paraibano e diz em delação que Carlos Bolsonaro comandava gabinete do ódio
- 11 de novembro de 2023
Reportagem exclusiva produzida pelo jornalista Aguirre Talento e publicada neste sábado (11) em Uol, um dos portais de notícias mais relevantes do país, expõe trechos da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid , ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assinada com a Polícia Federal.
Na delação, Cid afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos filhos do ex-presidente, comandava o gabinete do ódio, grupo de assessores do Palácio do Planalto responsáveis por publicações em redes sociais que são investigados por suspeitas de ataques aos adversários e às instituições democráticas.
Entre os integrantes do chamado Gabinete do Ódio, Mauro Cid citou a participação direta do paraibano Tércio Arnaud Tomaz, que nas eleições passadas disputou o cargo de suplente de senador pela Paraíba na chapa encabeçada pelo ex-secretário Bruno Roberto, filho do deputado federal Wellington Roberto, atual presidente do partido de Jair Bolsonaro no Estado, o PL.
Vereador Carlos Bolsonaro Foto: Agência Brasil
Confira abaixo reportagem completa publicada em Uol:
Exclusivo: Cid diz em delação que Carlos Bolsonaro comandava gabinete do ódio
Em mais um capítulo da sua delação premiada assinada com a Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, comandava o gabinete do ódio, grupo de assessores do Palácio do Planalto responsáveis por publicações em redes sociais que são investigados por suspeitas de ataques aos adversários e às instituições democráticas.
Cid também vinculou o próprio Jair Bolsonaro diretamente à disseminação de notícias falsas com ataques às urnas eletrônicas, confirmando as suspeitas detectadas pela PF após encontrar mensagens do então presidente enviadas ao celular do empresário Meyer Nigri. A delação premiada de Mauro Cid foi homologada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes no início de setembro. Depois disso, o ex-ajudante de ordens da Presidência deixou a prisão.
As informações foram confirmadas ao UOL por três fontes que acompanharam as tratativas do acordo. O caso está sob análise da equipe do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos. Em entrevistas na última semana, ele afirmou que Cid não apresentou provas dos seus relatos e disse que a PGR (Procuradoria-Geral da República) sugeriu diligências à PF para obter elementos de corroboração.
Tércio Arnaud e Bruno Roberto Foto: Reprodução
Ex-assessores de Carlos
O gabinete do ódio era composto pelos assessores Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. A indicação deles para trabalhar no governo Bolsonaro era atribuída, nos bastidores, a Carlos. Tércio e José Matheus anteriormente foram assessores do gabinete de Carlos na Câmara do Rio.
Em seu depoimento, Cid deixou claro que o vereador era responsável pelas estratégias do então presidente da República nas redes sociais. Além disso, Carlos Bolsonaro dava ordens e comandava o gabinete do ódio, de acordo com Mauro Cid.
O grupo já era investigado dentro do inquérito das milícias digitais, que apura a atuação dos assessores palacianos e de Carlos Bolsonaro nos ataques às instituições democráticas. O depoimento de Cid traz pela primeira vez o papel de ascendência de Carlos sobre o grupo.
As investigações da PF têm detectado indícios que essas milícias digitais geraram ataques às instituições que resultaram na disseminação de um sentimento de desconfiança sobre o período eleitoral, gerando movimentos de contestação do resultado das eleições. Isso estimulou atos antidemocráticos nas unidades militares para contestar o resultado das eleições e pode ter sido um dos elementos geradores dos atos golpistas do 8 de janeiro, conforme aponta o atual estágio das investigações.
Em depoimento prestado à PF no inquérito dos atos antidemocráticos, Carlos negou ser responsável pela disseminação de ataques às autoridades e disse também que não tinha vínculo com a política de comunicação do governo federal.
Notícias falsas
Mauro Cid também vinculou Jair Bolsonaro à disseminação de conteúdo falso pelas redes.
De acordo com o tenente-coronel, Bolsonaro usava seu próprio telefone celular para encaminhar mensagens contendo notícias falsas com ataques às urnas eletrônicas e a diversas autoridades públicas, como ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
A PF já tinha provas desse método porque encontrou diálogos no telefone celular do empresário Meyer Nigri. Como revelou reportagem do UOL publicada em agosto, a PF encontrou ao menos 18 mensagens enviadas por Bolsonaro ao empresário contendo ataques ao Judiciário, às urnas eletrônicas e às vacinas.
Por isso, os investigadores questionaram Mauro Cid se Bolsonaro enviava diretamente de seu telefone celular as mensagens, o que o ex-ajudante de ordens confirmou.
Outro lado
Procurada, a defesa de Jair Bolsonaro negou irregularidades e fez críticas à delação de Mauro Cid. O eminente procurador leu toda a peça e concluiu que a mesma é fraca e desprovida de qualquer elemento de prova. A delação, segundo o procurador, mais se parece com uma confissão e o mesmo, por reiteradas vezes, disse que nada se aproveita, afirmou em nota o advogado Fábio Wajngarten.
Carlos Bolsonaro, Tércio, José Matheus e Matos Diniz negaram em depoimentos prestados anteriormente à Polícia Federal terem disseminado ataques às instituições democráticas.