Renascer aponta problemão e acende ‘alerta vermelho’ para remake de Vale Tudo

  • 13 de março de 2024

Os remakes viraram parte da estratégia da Globo para lidar com a atual crise da TV aberta. Renascer não é exatamente um sucesso retumbante, mas está longe de ser uma trama problemática como Um Lugar ao Sol (2021) ou Travessia (2021). Entretanto, a repercussão da novela das nove já aponta um novo problema para a emissora –sobretudo diante da expectativa de levar uma nova versão de Vale Tudo (1988) ao ar.

As novelas sempre sofreram com interferências externas, a exemplo de Laços de Família (2000), em que um juiz proibiu a presença de menores de 18 anos na produção. A Globo teve de se virar para adaptar a trama enquanto recorria da decisão.

Os próprios números de audiência causaram verdadeiras revoluções na teledramaturgia, como histórias que foram reinventadas praticamente ao vivo para se adaptar às queixas do público –do terremoto em Anastácia, a Mulher sem Destino (1967) à explosão de um shopping em Torre de Babel (1998).

As redes sociais também entraram nessa dinâmica, possibilitando que mais pessoas tivessem voz para interferir nos rumos de uma novela. Hoje, qualquer telespectador pode dizer o que quiser sobre a trama no X (antigo Twitter) –ainda que alguns o digam apenas para o vento.

Contudo, há discussões que acabam ultrapassando o próprio alcance da plataforma, em que críticas pontuais de telespectadores viram munição até para uma ONG questionar judicialmente a Globo sobre um possível incesto na relação entre José Inocêncio (Marcos Palmeira) e Mariana (Theresa Fonseca).

A própria trama já problematizou diversas vezes a questão diante do incômodo do protagonista de ser chamado de “painho”. Alguns espectadores parecem não perceber ou até mesmo ignorar essas camadas de propósito –como se a novela fosse apenas um material paradidático com a única finalidade de passar uma lição.

Essa parte do público sempre existiu, mas nunca teve tanto peso como agora. Esse telespectador também começa a aparecer nas preocupações da indústria de audiovisual, em que basta apenas uma cena para toda uma produção ser cancelada.

O avanço da extrema direita no Brasil se dá por esse modus operandi, em que atores políticos muitas vezes produzem “cortes de realidade” para inflar as suas bases –editando tramas e as tirando de contexto para produção das próprias verdades.

Com mais questões espinhosas do que Renascer, Vale Tudo seria muito mais desafiadora para a Globo em uma possível nova versão. Do racismo de Odete Roitman (Beatriz Segall) à impunidade de Marco Aurélio (Reginaldo Faria), a trama é um prato cheio para levantar diversas discussões.

A principal questão é: como a Globo e os demais players da indústria audiovisual vão abordar essas discussões diante do risco de seus próprios produtos virarem armas contra si? É um horizonte tão complexo que, por enquanto, ninguém achou uma resposta à altura.

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